Regina M. Azevedo "Ecoa na minha cabeça a voz vibrante de Alceu Valença cantando o refrão: "A solidão é fera, a solidão devora/ É amiga da noite, prima-irmã do tempo/ E faz nossos relógios caminharem lentos/ Causando descompasso no meu coração..." De fato, quando se está desesperadamente só, o tempo custa a passar. As noites são intermináveis e em geral velamos por elas como se, ao encará-las, acelerássemos o relógio, trazendo a luz do novo dia e renovando as esperanças. Dor de solidão é visceral porque nenhum sentimento é experimentado tão intimamente. Medo, raiva, amor, alegria quase sempre são exteriorizados e compartilhados. Abandono, impotência e amargura ficam corroendo os solitários, arrastando-os ao fundo do poço como uma âncora da qual não se pode libertar. Que caminhos nos conduzem à solidão? Em muitos casos, "estar sozinho" não é sinônimo de "ser solitário". E há muita gente que experimenta a contragosto este sentimento, mesmo estando acompanhada... Há dois tipos básico de solidão: O primeiro é fruto de carências e do sentimento de abandono desenvolvido na infância, que reflete a história pessoal do indivíduo, o modelo de mundo criado a partir das experiências do seu passado. O segundo é resultante de um processo de diferenciação do ser humano: quanto mais elevado o seu nível de consciência e compreensão, maior a dificuldade de encontrar interlocutores para partilhar idéias e expectativas. Apesar de todos os seus conhecimentos, esse indivíduo se vê, aos poucos, "falando com as paredes" e vai se fechando. Pode chegar ao extremo de tentar refrear seu desenvolvimento ou até mesmo regredir, para novamente se integrar à massa dos "simples mortais". Tentativas assim, em geral, resultam inúteis. Esse tipo de solitário precisa entender que pessoas diferenciadas existem em menor número mesmo.
O remédio é persistir na procura e fluir com o tempo..." |
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